
Joey, Dawson e Pacey: o triângulo amoroso que marcou uma geração
Dawson’s Creek mostrara que “amor da vida” nem sempre é “amor pra sua vida”
Antes de Belly, Jeremiah e Conrad, da série O Verão que Mudou a Minha Vida, houve um triângulo amoroso que mexeu com a cabeça dos jovens de toda uma geração lá no fim dos anos 90 (e que, convenhamos, foi muito melhor construído do que o atual). Sim, eu tô falando de Joey, Dawson e Pacey, de Dawson’s Creek. A base é a mesma de todo triângulo: uma garota, dois amores, escolhas difíceis. Mas, desta vez, não são irmãos disputando atenção. São três amigos de infância carregando anos de intimidade, mágoas e lealdades.
Joey é a menina inteligente e tímida que cresceu ao lado do melhor amigo, Dawson, por quem sempre nutriu uma paixão escondida. Dawson, por sua vez, é o sonhador centrado… em si mesmo. Ele só enxerga os sentimentos de Joey bem depois, quando a adolescência já cobrou juros e correção monetária. O terceiro vértice é Pacey, o despreocupado, o “irresponsável”, aquele que passa a vida sob a sombra dos rótulos e que, por anos, trocou implicâncias com Joey como forma de se proteger.

Ao longo das temporadas, Dawson e Joey embarcam naquela dança do “vamos e voltamos”: namoram, terminam, tentam de novo, desandam de novo. Depois do último desentendimento, Joey se aproxima de Pacey e tudo muda devagarinho. De repente, ela está dividida entre dois amores: Dawson, constantemente apresentado como sua “alma gêmea”, e Pacey, o amor que desafia, que não segue cartilha nenhuma, que pede coragem para sair da zona de conforto.
Pelo nome da série, dá pra imaginar que a escolha “objetiva” seria Dawson. Só que o tempo faz revela caráter e expõe rachaduras. Dawson se torna cada vez mais… chato, o estereótipo do filho único que permanece no centro do próprio universo, preso a uma adolescência interminável. Pacey, em contrapartida, tem um dos melhores arcos de amadurecimento que eu já vi em série teen. O garoto que “não levava nada a sério” vai mostrando, cena após cena, que a máscara da irresponsabilidade era só um mecanismo de defesa. Ele cresce. Ele cuida. Ele protege. Ele desafia Joey a ser a melhor versão de si mesma e aceita ser desafiado por ela. E, sim, a química entre Katie Holmes e Joshua Jackson ajuda meio mundo a suspirar junto.
Quando digo que Pacey comprometeu o futuro amoroso de uma geração, eu me incluo aqui. Ele apresentou um tipo de amor que combina colo com cumplicidade, riso com ambição, cuidado com projeto de vida em comum. Um amor que não pede culto à imagem de ninguém, mas convida à parceria.

E Dawson’s Creek soube tensionar essa trama sem destruir seus personagens. Assim como em O Verão que Mudou a Minha Vida, houve um plot para separar Pacey e Joey e empurrá-la de volta à sua “alma gêmea” Dawson. Só que, em vez de demonizar Pacey com uma traição conveniente ou regredi-lo a um passado imaturo, a série escolhe um caminho coerente: ele entra num ciclo de auto-sabotagem, cede ao medo e termina com Joey. Dói, claro. Mas faz sentido com quem ele é e com o que ainda precisa aprender.
O público, porém, não comprou o término. E com razão. Os roteiristas esticaram o triângulo até o último episódio, mas a esta altura já estava claro: Joey é de Pacey, e Pacey é de Joey. No final, ela diz o que a gente acompanhou por anos: Dawson pode ter sido o amor da sua vida, aquele primeiro amor idealizado que vive na memória; mas Pacey é o amor pra sua vida, o que existe no dia a dia, que te move e te acompanha enquanto você constrói o futuro.
E é aqui que, pra mim, mora a diferença essencial em relação a O Verão que Mudou a Minha Vida. A série da década de 90 respeita a trajetória emocional dos seus personagens. Ela observa quem eles se tornam e ajusta a rota sem apelar para golpes baixos que neguem tudo o que vimos. Não é sobre surpreender a qualquer custo; é sobre ouvir a história que os personagens estão contando. Já em O Verão que Mudou a Minha Vida, a trama às vezes escolhe atalhos que rasuram arcos, punem vulnerabilidades e tumultuam a narrativa só para manter a ideia de “casal endgame” e, aí, a conta não fecha.
No fim das contas, o recado de Dawson’s Creek ainda é atual: crescer é fazer escolhas que às vezes desmentem as fantasias da infância. O “amor da vida” pode ter sido a faísca, o sonho, a lembrança que a gente guarda com carinho. Mas o “amor pra sua vida” é o que te desafia a amadurecer, que caminha ao seu lado, que te enxerga e que você enxerga de volta. É o amor que sustenta, não o que precisa ser sustentado.
Se Belly, Jeremiah e Conrad quiserem sobreviver ao teste do tempo, a lição está dada desde Capeside: triângulos inesquecíveis não se fazem de reviravoltas fáceis, e sim de personagens coerentes, que erram, aprendem e evoluem sem serem sacrificados no altar do plot twist. No romance (e nas séries), quem você foi importa; mas quem você é quando ama importa muito mais.
O Verão que Mudou a Minha Vida está disponível no catálogo do Prime Video. Já Dawson’s Creek pode ser encontrada no Sony One.
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