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Das fogueiras aos holofotes: as bruxas na cultura pop

De vilãs temidas a ícones, as bruxas atravessaram séculos de medo, repressão e reinvenção para se tornarem símbolo de poder e resistência feminina

Elas já foram queimadas, caçadas e silenciadas. Hoje, brilham sob holofotes, desfilam nas passarelas e estrelam produções. As bruxas sobreviveram ao tempo, à história e à fogueira para se tornarem algo muito maior do que vilãs.

A origem desse arquétipo é sombria e profundamente política. Entre os séculos XV e XVII, o medo e o controle religioso transformaram mulheres comuns em inimigas públicas. Curandeiras, parteiras, viúvas e mulheres independentes foram acusadas de feitiçaria simplesmente por viverem fora das regras impostas pelos homens. Ser chamada de “bruxa” era, muitas vezes, o preço de ser livre.

Com o tempo, a literatura e o cinema transformaram essa figura em mito. A bruxa dos contos de fadas (velha, solitária e cruel) nasceu em histórias como as dos Irmãos Grimm e se espalhou pelo imaginário popular. Ela era o espelho do medo coletivo diante de mulheres que se recusavam a ser submissas. O caldeirão, o nariz pontudo e a gargalhada histérica eram disfarces para algo mais profundo: a inquietação que uma mulher independente provocava no mundo patriarcal.

Do medo à fascinação

No cinema, a imagem da bruxa ganhou novas camadas. A mais icônica delas surgiu em O Mágico de Oz (1939), com a Bruxa Má do Oeste: verde, sarcástica e vingativa, ela redefiniu o papel da vilã. Por trás do riso maléfico, havia algo fascinante: uma mulher poderosa que não pedia desculpas por ser temida.

Nas décadas seguintes, o feitiço começou a mudar de forma. Nos anos 60, Samantha, protagonista de A Feiticeira, encantou o público ao misturar magia e vida doméstica. A bruxa agora era carismática, engraçada, mas tentava se moldar ao mundo dos humanos para agradar o marido.. Já nos anos 90, Sabrina, a Aprendiz de Feiticeira, as irmãs Halliwell e as Jovens Bruxas falavam com uma nova geração de jovens e adolescentes que aprendiam, junto com elas, a equilibrar poder e normalidade. A bruxaria ganhava leveza e, pela primeira vez, identificação.

Agatha Harkness
Agatha Harkness em cena da série Wandavision, da Disney | Reprodução

A magia como resistência

A partir dos anos 2000, as bruxas voltaram a vestir preto e a reivindicar seu lugar. Em séries como American Horror Story: Coven e, mais recentemente, Agatha Desde Sempre, a feitiçaria deixou de ser enfeite narrativo para se tornar discurso. No cinema, A Bruxa (2015) deu um tom mais denso e feminista à figura, mostrando a magia como metáfora da libertação feminina. Já o fenômeno Wicked, tanto no teatro quanto no cinema, reinventou o mito da Bruxa Má do Oeste com uma história de empatia e injustiça.

As bruxas, antes condenadas por desafiar o poder, agora o questionam de dentro. Elas deixaram de ser ameaça e viraram símbolo de autonomia. E isso talvez seja o maior feitiço da Cultura Pop moderna: transformar o medo em identidade.

Das cinzas ao glitter

Hoje, o “witchcore” se espalha entre desfiles, editoriais e perfis do TikTok. Ser “bruxa” virou estética, símbolo e até estilo de vida. Há playlists místicas, velas aromáticas, cristais e discursos sobre ancestralidade e autoconhecimento. O que antes era demonizado agora é ferramenta de empoderamento e conexão. A magia, antes tratada como pecado, se tornou linguagem. Uma forma de resgatar poder, de reconectar corpo, natureza e instinto e de lembrar que ainda é revolucionário ser uma mulher que não pede licença para existir.

Algumas fontes e referências pesquisadas para esse artigo: Silvia Federici (Calibã e a Bruxa), Jeffrey B. Russell (A História da Bruxaria), Salem Witch Museum, além de artigos dos sites The GuardianHistory ChannelBBC CultureVogueRefinery29Harper’s Bazaar

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daniellacadavez@gmail.com

A Dani é a nossa Girl Boss e diretora na Legião dos Heróis. É Millennial com orgulho, fã de Star Wars, Disney, Jogos Vorazes, ficção científica e romances de época.

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