Backstreet Boys no The Town

Ser fã também é coisa de mulher (e não, eu não preciso me justificar)

De shows a sagas geek, o amor feminino pela cultura pop continua sendo subestimado

Por que quando uma mulher é uma fã apaixonada — daquelas que se emocionam, choram e vibram de verdade — isso ainda é visto como algo “infantil”, “exagerado” ou “bobo”?


Por que nós, mulheres, ainda parecemos precisar de validação para amar algo intensamente? Como se a paixão precisasse de um selo de maturidade antes de ser levada a sério.

Eu sou fã dos Backstreet Boys desde a adolescência (há 25 anos e contando!). No começo de Setembro, fui ao show deles no Festival The Town, em São Paulo. Chorei, cantei, dancei… e me emocionei de verdade. Ainda assim, em vários momentos me peguei tentando justificar o porquê daquela emoção, como se precisasse explicar a importância daquele momento para mim.

Tudo isso para fugir das piadinhas, olhares enviesados e comentários preconceituosos. Mesmo ali, no meio do público, vi namorados zombando dos cantores e ouvindo comentários sobre ser um “show de mulheres histéricas”. A velha caricatura de sempre.

Mas me pergunto: quando um homem vai a um estádio gritar — ou até brigar — por causa de 22 outros homens correndo atrás de uma bola, isso é considerado “normal”, “aceitável”, até “bonito”.


Não se trata apenas de futebol ser um esporte, mas de como a sociedade sempre legitimou as paixões masculinas enquanto domesticou as femininas.

Historicamente, aos homens foi dado o direito de ocupar o espaço público com emoção e voz alta, enquanto a nós, mulheres, foi imposto o recato, o silêncio e o controle.
Dos espartilhos que prendiam o corpo à ausência de direitos que nos calaram por séculos, a mensagem sempre foi a mesma: o entusiasmo masculino é força; o feminino, histeria.

O “ENEM do fã” e a deslegitimação cotidiana

E não para por aí. Além de justificar o nosso amor por uma banda, uma franquia ou um personagem, ainda precisamos provar que sabemos tudo sobre aquilo que amamos para sermos aceitas como “fãs de verdade”.

Quantas vezes já não fui sabatinada sobre Star Wars para “comprovar” meu conhecimento? Como se existisse um ENEM geek ou um diploma assinado por George Lucas distribuído aos fãs oficiais da internet…

E antes que alguém chame isso de “mimimi”: não, não é um caso isolado.


A ausência de dados empíricos, como pesquisas, gráficos ou porcentagens não apaga o que acontece diariamente. Essas situações são reais, e a diferença é que a gente não foi educado a enxergar essas pequenas deslegitimações que corroem a liberdade de ser fã como se quer.

O direito de se emocionar

Quando uma mulher vibra alto, chora e se entrega, isso é rotulado de “drama” ou “exagero”. Quando um homem faz o mesmo, vira “paixão”. Mas ser fã é justamente sobre isso: afeto, memória e pertencimento. É sobre como certas músicas, filmes e histórias viram abrigo, como se fossem parte da nossa biografia. E isso é adulto, é profundo, é digno — independente do gênero.

Eu não preciso pedir licença para me emocionar em um show dos Backstreet Boys, assim como ninguém precisa justificar a própria euforia por um gol. A única validação que um fandom precisa é a do coração batendo mais rápido.

 Sem ENEM do fã, sem régua do preconceito

Talvez a nossa tarefa, daqui pra frente, seja simples e revolucionária: parar de medir o amor dos outros com a régua do preconceito. Deixar que cada um viva sua alegria sem teste, sem prova, sem necessidade de justificar o que sente. Porque o que diminui a gente não é o que amamos, mas o esforço constante de ter que explicar por quê.

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daniellacadavez@gmail.com

A Dani é a nossa Girl Boss e diretora na Legião dos Heróis. É Millennial com orgulho, fã de Star Wars, Disney, Jogos Vorazes, ficção científica e romances de época.

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