
Barbarella: heroína pioneira do sci-fi e revolucionária
Como Jane Fonda pilotou uma nave e provocou um debate que dura meio século
Em plena década de 1960, o mundo via surgir protestos pelas ruas, a segunda onda do feminismo tomava força e a contracultura sacudia convenções. Foi nesse cenário de ruptura que Barbarella aterrissou nas telas: uma heroína intergaláctica, armada com um futurista “psycho-gun”, trajando roupas que realçavam cada curva e comandando sua própria história. O filme de 1968, dirigido por Roger Vadim e estrelado por Jane Fonda, não foi apenas um espetáculo psicodélico: foi um manifesto visual e, ao mesmo tempo, o epicentro de um debate sobre liberdade feminina sob o olhar masculino.

Das HQs à tela grande
Criada em 1962 pelo quadrinista francês Jean-Claude Forest, Barbarella estreou nos gibis como símbolo de uma sexualidade vivida com naturalidade. Quando Vadim, então casado com Jane Fonda, resolveu levar o personagem ao cinema, manteve o espírito irreverente e sensual das páginas. Lançado em 11 de junho de 1968, o longa combinava cenários barrocos, cores vibrantes e uma trilha sonora eletrônica, levando o público a questionar até onde a ficção científica podia ousar.
Contexto de contracultura e segunda onda feminista
Nos EUA, os anos 60 foram marcados por movimentos pelos direitos civis, protestos contra a Guerra do Vietnã e a eclosão da segunda onda do feminismo. Isso sem falar na corrida espacial que estava em seu auge. Barbarella surgiu nesse exato caldeirão: enquanto as mulheres reivindicavam espaço na sociedade, a heroína de Fonda explorava planetas e sua própria sensualidade sem jamais assumir postura de vítima. Seu erotismo era parte do enredo, não um adereço: ela era forte, inteligente e dona de si. Um presságio do que veríamos em heroínas posteriores.
Legado na moda e na cultura pop
Apesar das críticas e polêmicas na estreia, Barbarella tornou-se cult e reverberou por décadas. A estética do filme inspirou estilistas como Pierre Cardin, pop stars como Madonna e Lady Gaga, videoclipes psicodélicos e até outras protagonistas de sci-fi, de Leeloo em O Quinto Elemento a Furiosa em Mad Max. Barbarella provou que a ficção científica podia ter uma mulher no volante e que o corpo feminino poderia ser expressão de poder, não apenas objeto de desejo.
Liberdade genuína ou construção masculina?
Eu amo o filme: acho-o disruptivo, visualmente fascinante e carregado de energia. Mas não posso deixar de questionar: será que Barbarella era mesmo dona de sua liberdade? A personagem foi criada e filmada sob olhares masculinos — de Forest ao diretor Vadim — e isso moldou a forma como seus atributos foram exibidos. Mesmo forte e independente, Barbarella carrega traços de fetichização que nos lembram que a “liberdade” na tela nem sempre reflete o poder real da protagonista.
O futuro de Barbarella e o debate que continua
Mais de 50 anos depois, Barbarella está voltando em um remake que deverá ser estrelado por Sydney Sweeney. Em um mundo onde as conversas sobre sexualidade, empoderamento feminino e representatividade seguem a todo vapor, é vital perguntar: como atualizarão essa lenda intergaláctica? Será possível manter o espírito libertário de Barbarella sem sucumbir ao olhar masculino que a originou? O remake promete reacender o debate e mostrar que a viagem da heroína pode ser tão instigante quanto seu destino.
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