O impacto de personagens femininas escritas por mulheres


Quando pensamos em personagens femininas do cinema, é comum sentirmos que algo não se encaixa. Muitas vezes, as narrativas contadas por elas não passam verdade e não parecem nos representar. Isso acontece porque, por muito tempo, as histórias femininas foram contadas pelo olhar masculino, resultando em personagens rasas, arquétipos repetitivos e pouca complexidade emocional. Mas, felizmente, isso está mudando – e muito por conta da crescente presença de mulheres na indústria do cinema.


Mulheres tomando as rédeas da própria história


Quando mulheres escrevem sobre mulheres, há uma profundidade que dificilmente se encontra em roteiros dominados por homens. A diferença é gritante. Os diálogos deixam de ser apenas funcionais para a trama e passam a refletir nuances emocionais, inseguranças, desejos e contradições reais. Personagens femininas não são apenas “fortes” ou “sensuais”, mas multifacetadas, cheias de camadas e conflitos internos que vão além do papel que ocupam na história de um protagonista masculino.


Um olhar autêntico e relacionável


Basta olhar para filmes como ‘Adoráveis Mulheres’, ‘Barbie’ e ‘Lady Bird’ de Greta Gerwig, ou ‘Nomadland’, adaptado para o cinema por Chloé Zhao. São narrativas que trazem a experiência feminina de uma forma íntima e sensível, explorando questões como independência, laços familiares, solidão e pertencimento com uma complexidade que raramente era vista em décadas passadas.

Além de filmes como ‘A Mulher Rei’, dirigido e escrito por Gina Prince-Bythewood, que resgata um capítulo pouco conhecido da história e nos apresenta um grupo de guerreiras africanas, desafiando os moldes tradicionais de representatividade no cinema épico. ‘A Substância’, destaque nas premiações do ano, também subverte o papel de personagens femininas no gênero do terror, além de trazer um olhar sobre o amadurecimento feminino.

Já na TV, temos autoras como Amy Sherman-Palladino, responsável por criar duas das minhas séries favoritas: ‘The Marvelous Mrs. Maisel’ e ‘Gilmore Girls’. As duas focadas em mulheres autênticas e protagonistas de suas próprias histórias Ambas muito diferentes de mim, mas ao mesmo tempo, muito parecidas comigo. Muito relacionáveis.
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Personagens femininas - A Substância | Foto: divulgação

A representação das super-heroínas


Durante muito tempo, personagens femininas nos filmes de super-heróis existiam apenas para complementar os protagonistas masculinos, servindo como interesse amoroso ou coadjuvantes sem grande profundidade. Sem falar em seus figurinos claramente projetados para atrair o olhar masculino – maiôs apertados, decotes exagerados e saltos altos que não faziam nenhum sentido para a ação.

Sob a direção de mulheres, o jogo muda completamente. Não precisa ser super fã de heróis para perceber a diferença da representação da Mulher-Maravilha das séries e filmes antigos, em relação aos novos longas comandados por Patty Jenkins, por exemplo. 

Na verdade, nem é preciso voltar tantos anos assim na história e a Harley Quinn de Esquadrão Suicida (2016) é a prova disso. ‘Aves de Rapina’, escrito por Christina Hodson, trouxe uma versão muito mais autêntica e irreverente de Harley Quinn, longe dos estereótipos das representações anteriores.


O futuro das personagens femininas no cinema


Ainda há um longo caminho pela frente. O mercado do cinema ainda é dominado por homens e, muitas vezes, quando mulheres conseguem espaço, precisam lidar com expectativas limitantes e com o fato de serem constantemente questionadas sobre sua capacidade de criar “grandes histórias”. Mas o impacto delas é inegável. Cada vez mais, vemos narrativas que fogem do previsível, que nos fazem sentir compreendidas e que desafiam o próprio cinema a se reinventar.

No fim das contas, não é só sobre representação, é sobre autenticidade. Porque quando mulheres escrevem sobre mulheres, o resultado não é apenas um reflexo do que o público quer ver, mas sim do que ele precisa sentir.


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A Bru é aspirante a atriz de musicais nas horas vagas, dorameira e fã de animações.

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