
Sex and the City: será que Mr. Big foi um erro? A resposta é sim!
Carrie e Big podem até ter sido o casal mais icônico dos anos 2000, mas romantizar esse relacionamento hoje diz mais sobre a gente do que sobre eles.
A terceira temporada de And Just Like That já disponível na HBO Max. Enquanto isso, a Gen Z vai descobrindo Sex and the City com aquele misto de nostalgia e perplexidade. O resultado? Muitos questionamentos e alguns “triplex” alugados na cabeça de nós, millennials, que crescemos vendo Carrie e cia como exemplos da liberdade feminina.
E no centro dessa redescoberta, surge uma pergunta que paira no ar há mais de duas décadas — mas que agora está sendo feita com mais coragem:
Será que Mr. Big foi um erro?
A resposta? Um grande e categórico sim.
A ideia de amor que nos ensinaram a aceitar
Por anos, vimos o relacionamento entre Carrie e Big ser pintado como “o grande amor da vida dela”. Mesmo quando ele desaparecia, não se comprometia, tratava os sentimentos dela como algo menor ou abandonava a protagonista no altar, lá estávamos nós: torcendo por ele.
Esse é o ponto mais delicado. Porque Sex and the City sempre foi vendida como uma série revolucionária sobre mulheres livres, complexas, donas da própria história. Mas quando a gente olha para a trajetória amorosa da personagem principal, o que vemos é um ciclo de mágoa, abandono e recaída mascarado de romance.
Aquela velha ideia vinda direto do Romantismo: o amor verdadeiro supera todos os obstáculos. Mesmo que esse amor custe a saúde emocional de uma das partes.

Carrie não sabia o que era um relacionamento saudável — e a gente também não
Reassistindo à série agora, o que mais salta aos olhos é o padrão: Carrie se envolve em relações que parecem vício. Ela busca o desconforto, o drama, a emoção da instabilidade. E, no meio disso tudo, romantiza esse movimento como intensidade.
Mas intensidade não é sinônimo de profundidade. E amor que vive de altos e baixos, que exige que você esteja sempre se provando, não é amor… é desgaste.
Em muitos momentos, Carrie nem ocupa o lugar de vítima, mas também de quem perpetua o ciclo. Que sabota, que corre atrás de quem não merece. Basta lembrar da forma como ela tratou Aidan, um dos poucos personagens realmente dispostos a amá-la com estabilidade.
Big nunca amou Carrie. Ele amava ser amado por ela
Big é o típico homem egocêntrico e emocionalmente indisponível. Charmoso, bem-sucedido, mas completamente imaturo quando o assunto é se relacionar de verdade.
Ele não se compromete. Some. Foge. E quando retorna, é sempre em seus próprios termos.
No fundo, a pergunta nunca foi “Será que ele amava Carrie?”, mas sim: ele amava Carrie ou só gostava da devoção que ela tinha por ele?
O resultado dessa dinâmica? Uma relação que nunca foi recíproca.
O problema não foi só o casal. Foi a narrativa que a gente comprou
Sex and the City foi inovadora em vários aspectos, mas não escapou da armadilha de tantos outros produtos culturais: a de colocar a mulher forte, bem-sucedida e inteligente se dobrando por um homem que não está à altura dela.
A história de Carrie e Big não é uma história de amor. É um retrato do quanto fomos (e somos) ensinadas a tolerar, esperar, aceitar migalhas — em nome de um ideal de romance que, na prática, só existe na ficção.
O amor da vida dela deveria ter sido ela mesma
Talvez a verdadeira revolução tivesse sido mostrar a Carrie escolhendo ficar sozinha. Indo embora. Dizendo “não” com firmeza e seguindo sua vida com leveza, depois de tudo que passou.
Talvez o grande final feliz fosse ela mesma. De salto, em Nova York, com sua coluna, sua escrita, e sem precisar provar nada pra ninguém (assim como fez Samantha!).
Mas tudo bem. Agora a gente sabe. Agora a gente vê. E se Mr. Big foi um erro, ele serviu pra nos ensinar que nunca mais precisamos aceitar esse tipo de amor.