Família Addams

Especial Wandinha: tudo o que você precisa saber sobre a personagem mais sombria da cultura pop

Da sátira de Charles Addams ao fenômeno da Netflix: origem, evolução e impacto de Wandinha Addams

Em 1938, o cartunista Charles Addams publicou a primeira tirinha da Família Addams na revista The New Yorker. Pelo trabalho, recebeu USD 85 (pouco mais de USD 1.700 em valores de hoje) por um desenho que, a princípio, parecia apenas mórbido, mas que, na verdade, era uma sátira à “família perfeita americana”. Em plena América ainda abalada pelos efeitos da crise de 1929, Addams criou uma família rica, aristocrata e deliciosamente excêntrica, que ignorava as convenções sociais e tinha um gosto assumidamente sombrio. Era humor, mas também crítica: um espelho distorcido de um país que vendia felicidade enquanto convivia com pobreza e desigualdade.

Entre as décadas de 40 e 50, mais de cinquenta tirinhas foram publicadas. Em 1964, a criação migrou para a TV: sob produção de David Levy e roteiro de Nat Perrin, o terror saiu de foco e os Addams viraram uma sitcom no estilo I Love Lucy, apimentada por um humor macabro que conquistou famílias inteiras. Dali em diante, o universo só cresceu: séries animadas, especiais, musicais, crossovers (como o encontro com Scooby-Doo) e, claro, o grande clássico do cinema de 1991: com Anjelica Huston, Christina Ricci, Raúl Juliá e Christopher Lloyd, que cristalizou o visual e o espírito dessa “família sombria e encantadora” para novas gerações.

Wandinha Addams
Diferentes versões da personagem Wandinha Addams | Reprodução

Dentro dessa árvore genealógica está ela: Wandinha. A personagem apareceu já nas tiras de 1938, uma garotinha de tranças e olhar sério, ainda sem nome, parte daquela família que tirava sarro do modelo “certinho” de lar americano. O batismo veio com a série de TV de 1964: no inglês, Wednesday, inspirado no verso do poema infantil “Monday’s Child” ( que dizia que “a criança de quarta-feira é cheia de desgosto”). Difícil imaginar descrição mais certeira para alguém que, desde sempre, prefere o lado mais frio (e afiado) da vida.

Ao longo das décadas, Wandinha reapareceu em animações, filmes e especiais, preservando a essência: fria, assustadora, sádica, inteligente e com um pé no sobrenatural. Em 2022, ganhou protagonismo absoluto na série da Netflix. Na interpretação de Jenna Ortega, a personagem deixa de ser apenas a adolescente gótica sarcástica e se torna uma investigadora paranormal brilhante e dona de uma das danças mais icônicas dos últimos tempos. A série Wandinha, que já é a série de língua inglesa mais assistida na plataforma com 360 milhões de visualização, apresenta uma personagem em transição: entre o sarcasmo e a empatia, entre o isolamento e a vontade de pertencer, entre a tradição Addams e um mundo que tenta mudá-la sem conseguir.

O impacto cultural dos Addams — e de Wandinha, em particular — vem justamente dessa mistura de sátira e identificação. A família sempre funcionou como comentário social sobre o que chamamos de “normalidade”: enquanto vizinhos e instituições tentam enquadrá-los, eles seguem firmes em seus próprios códigos, celebrando o diferente sem pedir desculpas. Wandinha, por sua vez, virou um emblema geracional. A persona gótica, as falas cortantes, a postura anti-afetação e a inteligência afiada dialogam com quem cresce em um mundo saturado de performances: ela não suaviza quem é para caber no molde e isso a torna irresistível.

De 1938 até aqui, muita coisa mudou. O preto-e-branco virou technicolor, o jornal virou streaming e a casa mal-assombrada virou trend. O que não mudou foi o coração da ideia: os Addams continuam sendo um espelho irônico da sociedade, e Wandinha permanece… Wandinha. Fiel a si mesma, moderna sem perder a raiz, a personagem mais sombria da cultura pop segue lembrando que nem todo conto de família precisa terminar com um “felizes para sempre”. Às vezes, basta um “deliciosamente estranho, como sempre”.

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daniellacadavez@gmail.com

A Dani é a nossa Girl Boss e diretora na Legião dos Heróis. É Millennial com orgulho, fã de Star Wars, Disney, Jogos Vorazes, ficção científica e romances de época.

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