
Príncipe no cavalo branco: filmes e séries de romance e a ilusão do par perfeito
Desde pequenas, somos alimentadas com uma ideia bem específica do que é o amor ideal. A imagem é clara: um príncipe (geralmente lindo, rico, sensível e com um certo trauma mal resolvido) aparece do nada, atravessa tempestades e enfrenta dragões. Tudo isso para, no final, provar que o amor verdadeiro existe e que ele é a recompensa por todo o sofrimento. Parece familiar?
Acontece que essa narrativa — a do “príncipe no cavalo branco” — não está só nos contos de fadas. Ela foi refinada, atualizada e embalada nos filmes e séries de romance que consumimos na cultura pop. E, não me leve a mal, eu simplesmente amo esses filmes, mas eles contribuem para alimentar a ilusão do par perfeito.
Romance com roteiro é mais fácil!
É claro que toda história precisa de drama e emoção. E não tem nada de errado em suspirar por uma cena romântica. Mas o problema começa quando a gente começa a comparar essas histórias com a vida real — ou pior, com os nossos próprios relacionamentos.
Quantas vezes você já se pegou pensando: “se ele me amasse de verdade, ele teria vindo atrás de mim”, “ele saberia o que eu estou sentindo”, ou “o amor da minha vida ainda vai aparecer na hora certa”? Essas ideias, muitas vezes, são plantadas e regadas por anos de consumo de narrativas onde o amor perfeito é inevitável, o sofrimento é recompensado e o “destino” dá um jeito de unir duas pessoas que são feitas uma para a outra.
K-dramas: um caso de amor (e de idealização)
Quem ama um bom dorama de romance — e eu me incluo aqui — sabe que esse gênero sabe mexer com as emoções como ninguém. E sim, existem histórias lindas, emocionantes, profundas… mas também é inegável o quanto muitos deles também reforçam o estereótipo do par perfeito.
Pense em Pousando no Amor, por exemplo. Yoon Se-ri literalmente cai (do céu!) na vida do Capitão Ri Jeong-hyeok, um soldado norte-coreano que, além de ser absurdamente bonito, toca piano, cozinha bem, protege ela de tudo e ainda tem um senso de humor fofo.
E a lista segue: Pretendente Surpresa, Sorriso Real, My Demon… todos com protagonistas masculinos com aparência impecável, poder ou status social elevado e uma queda (geralmente súbita) pela heroína, que é forte, engraçada, gentil — mas quase sempre está em desvantagem de poder.
.

O problema da perfeição
O ponto é que esses romances — tanto em produções ocidentais quanto orientais — criam uma expectativa de completude. A ideia de que só seremos realmente felizes quando encontrarmos aquela pessoa que nos entende sem palavras, que se sacrifica por nós, que faz grandes gestos, que sabe exatamente o que dizer na hora certa. O amor, nessas narrativas, parece simples. Mesmo quando é dramático, ele é claro.
E a vida real raramente é assim. Relacionamentos reais são construídos, conversados, às vezes dolorosos. Ninguém adivinha o que você está sentindo. As declarações de amor nem sempre são épicas — muitas vezes, elas vêm em forma de “guardei um pedaço do teu chocolate” ou “te esperei pra ver o episódio novo”.
Mas quando a gente está esperando por alguém “perfeito”, com roteiro pronto e trilha sonora, pode acabar deixando passar as coisas reais — que, sim, podem ser mais simples, mas são também mais sinceras.
Então, o que fazer?
A resposta não é parar de assistir romances ou jurar nunca mais se apaixonar por um personagem fictício — até porque… seria impossível! Mas talvez seja hora de começar a consumir essas histórias com um pouco mais de consciência. Saber separar o encantamento da ficção das complexidades da realidade. E, principalmente, deixar de esperar que o amor venha pronto — ou montado em um cavalo branco.
Porque às vezes, o amor real chega de metrô, traz café, erra as palavras, mas está disposto a aprender com você. E isso também pode ser mágico.
Gostou do contéudo? Leia também: Romance: 5 histórias friends to lovers para você assistir!