de volta para o futuro

Como ‘De Volta para o Futuro’ refletiu o otimismo (e o medo) tecnológico dos anos 80

Há 40 anos, Marty McFly acelerava a 88 milhas por hora e atravessava o tempo, mas o verdadeiro salto não era científico, era cultural

Em 1985, quando De Volta para o Futuro estreou, o mundo estava obcecado por tecnologia. Computadores pessoais, walkmans, televisões portáteis, videogames, carros esportivos e a promessa de um novo futuro parecia ao alcance de qualquer um. E foi exatamente nesse cenário que Marty McFly e Doc Brown nasceram: como símbolos de uma geração que acreditava que a ciência podia mudar tudo, inclusive o passado.

O espírito tecnológico dos anos 80

Os anos 80 foram a década da revolução doméstica. Tudo o que hoje é cotidiano, de computadores a gravações em vídeo, estava chegando às casas pela primeira vez. A ficção científica se tornou um espelho dessa transformação.

De Volta para o Futuro entendeu isso como poucos.

A DeLorean não era só um carro, era uma metáfora ambulante do progresso: aço inoxidável, design futurista e portas que se abrem como asas. Um objeto de desejo e um símbolo do que o futuro prometia.

Doc Brown, o cientista meio maluco, também encarnava o novo ideal do gênio visionário dos anos 80: o mesmo espírito que dava origem a Steve Jobs e Bill Gates. Homens que, de dentro de uma garagem, prometiam reinventar o mundo.

Mas o filme também trazia o outro lado dessa revolução: o medo da tecnologia fora de controle. Da energia nuclear ao poder de alterar o tempo, De Volta para o Futuro refletia uma época em que a inovação parecia surreal e perigosa.

De volta para o futuro
Os personagens Doc Brown e Marty McFly em cena do filme De Volta para o Futuro | Reprodução

Um passado idealizado, um futuro incerto

Ao mandar Marty de 1985 para 1955, o filme cria um contraste direto entre duas Américas: a dos anos 50, suburbana, otimista, com papéis de gênero rígidos; e a dos anos 80, marcada por consumo, individualismo e ansiedade.

Era o auge da era Reagan. O sonho americano ainda existia, mas o país já se questionava sobre seus próprios valores. De Volta para o Futuro oferecia uma fantasia nostálgica: a chance de voltar no tempo e “corrigir” o presente.

Por isso, o filme encantou adultos e adolescentes. Para um grupo oferecia conforto; para outro, aventura. Ambos viam na viagem temporal algo maior: a possibilidade de recomeçar.

O futuro segundo os anos 80

Quando o segundo filme chegou aos cinemas, em 1989, o futuro imaginado para 2015 revela tudo o que os anos 80 esperavam e temiam.

Tênis que amarram sozinhos os cadarços, carros voadores, telas planas, videochamadas, drones… É o futuro do consumo, da inovação constante, da tecnologia como status (não muito diferente do que vemos hoje, não é mesmo?!)

Mas a crítica está lá, nas entrelinhas: um mundo onde tudo é vendido, onde a nostalgia é produto e o tempo, mercadoria.

A estética colorida e exagerada do “2015” é, na verdade, um espelho dos próprios anos 80: uma época confiante e megalomaníaca, que acreditava no poder da tecnologia, mas ainda não sabia lidar com seus excessos (e, na verdade, não sabemos até hoje!).

A ciência como metáfora da responsabilidade

O capacitor de fluxo, aquele triângulo luminoso que faz a DeLorean atravessar o tempo, é mais do que uma invenção genial: é uma metáfora sobre o poder humano de transformar o mundo.

E o filme é claro quanto à lição: não é a tecnologia que cria problemas, são as pessoas que a usam sem pensar nas consequências.

Esse debate ecoava o contexto da época. Pouco depois do acidente nuclear de Chernobyl (1986), a sociedade passou a discutir os limites éticos da ciência. O filme, mesmo leve e divertido, trazia uma pergunta que continua atual: até onde vai a nossa responsabilidade quando temos o poder de mudar tudo?

O legado que atravessou gerações

Quatro décadas depois, De Volta para o Futuro continua sendo uma aula sobre como o cinema pode capturar o espírito de um tempo.

Marty McFly virou o protótipo do herói adolescente que entende de tecnologia. Doc Brown, o símbolo do mentor sonhador. E a trilogia, um lembrete de que o futuro é tão fascinante quanto imprevisível.

Mais do que prever hoverboards e tênis da Nike, o filme previu como nos sentiríamos em relação à tecnologia: empolgados, dependentes, nostálgicos.

E talvez seja por isso que ainda revisitamos Hill Valley, 40 anos depois. Porque, no fundo, De Volta para o Futuro não é sobre máquinas do tempo. É sobre o desejo humano de consertar o passado e controlar o amanhã, mesmo sabendo que nenhuma invenção é capaz de deter o tempo.

Onde assistir: De Volta para o Futuro está disponível na Netflix e na HBO Max

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daniellacadavez@gmail.com

A Dani é a nossa Girl Boss e diretora na Legião dos Heróis. É Millennial com orgulho, fã de Star Wars, Disney, Jogos Vorazes, ficção científica e romances de época.

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