Final Girls

Afinal, quem são as Final Girls?

De símbolo moral à ícone de resistência, as Final Girls evoluíram e redefiniram o papel da mulher no terror

Sangue, medo e coragem. Entre os anos 1970 e 1980, o cinema de terror criou uma figura que se tornaria lendária: a Final Girl. Ou seja, a última sobrevivente, a garota que enfrenta o monstro e vive para contar a história.

Mas quem são essas mulheres? E o quê elas dizem sobre o olhar da sociedade para o feminino dentro do medo?

A origem do mito

O termo Final Girl foi cunhado em 1992 pela crítica Carol J. Clover, no livro Men, Women and Chain Saws. Ela definiu a Final Girl como aquela que sobrevive no final do filme de terror, geralmente jovem, moralmente correta e emocionalmente contida.


Nos primeiros slashers, essa personagem simbolizava a mulher “merecedora”, aquela que, por se comportar “bem”, ganhava o direito de viver. A ideia parecia progressista: uma mulher forte, enfrentando o mal e vencendo. Mas, nas entrelinhas, havia um discurso conservador. O terror dos anos 70 e 80 retratava o corpo feminino como território de culpa e punição. A sobrevivência da Final Girl estava condicionada à pureza e à obediência.

Laurie Strode e a era do controle

Foi com Laurie Strode, em Halloween (1978), e Alice Hardy, em Sexta-Feira 13 (1980), que o arquétipo ganhou forma. Essas protagonistas eram retratadas como disciplinadas e prudentes, em contraste com as outras personagens, geralmente punidas por beber, fazer sexo ou desafiar as regras.


O terror traduzia, assim, as ansiedades de uma época: o medo do corpo feminino livre e o desejo de controlá-lo. A Final Girl não era símbolo de libertação, mas um lembrete do preço da transgressão.

Sidney Prescott Panico
A personagem Sidney Prescott em cena do filme Pânico | Reprodução

A virada dos anos 90

Em 1996, Sidney Prescott, protagonista de Pânico, virou o jogo. Ela era esperta, sarcástica, autoconsciente e conhecia as “regras” do terror. Sua sobrevivência não vinha da pureza, mas da inteligência e, principalmente, dos traumas.

Sidney marcou a transição de uma geração: deixou de ser a moça que foge para se tornar a mulher que revida. A partir daí, o gênero começou a brincar com o próprio clichê. Filmes como Pânico 4The Final Girls (2015) e You’re Next (2011) passaram a desconstruir o arquétipo, ironizando a velha fórmula da donzela em perigo. O público, antes voyeur do sofrimento feminino, passou a torcer pela mulher que luta.

Quando o terror encontra o feminismo

As Final Girls contemporâneas deixaram de ser “as corretas” para se tornarem “as complexas”. Hoje, o terror é habitado por protagonistas falhas, vingativas e cheias de nuances.

De Hereditário a Midsommar, de Pearl a Ready or Not, a sobrevivente já não é símbolo de obediência, e sim de autonomia. Essas novas figuras questionam o olhar masculino que dominou o gênero por décadas. A mulher que sobrevive já não precisa ser pura, basta ser humana.

E, talvez, seja esse o verdadeiro triunfo da Final Girl: não apenas viver, mas sobreviver ao próprio estereótipo. O horror evoluiu, e com ele, as suas heroínas. O sangue continua o mesmo, mas agora, a lâmina está nas mãos delas.

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daniellacadavez@gmail.com

A Dani é a nossa Girl Boss e diretora na Legião dos Heróis. É Millennial com orgulho, fã de Star Wars, Disney, Jogos Vorazes, ficção científica e romances de época.

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